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Brasil inicia implantação de centro para produção nacional de vacinas de RNA

A trajetória para consolidar uma autonomia estratégica na produção de vacinas no Brasil marca um momento decisivo, sobretudo ao considerar o papel essencial das startups no ecossistema. A chamada pública para credenciar o primeiro Centro de Competência em tecnologias de RNA mensageiro (mRNA) – com investimento de R$ 60 milhões dentro de um pacote de R$ 450 milhões – dá o pontapé inicial para uma nova fase de inovação no país. Esse Centro mobilizará recursos técnicos e financeiros para acelerar o desenvolvimento interno, com participação de startups, universidades, empresas e instituições de fomento.

As startups têm papel central nesse processo como vetores ágeis de inovação. Podem aportar soluções de plataforma, formulação de nanopartículas lipídicas ou purificação de RNA, trabalhando em conjunto com institutos estabelecidos para o escalonamento da tecnologia. A chamada pública prevê ainda apoio a empresas que desenvolvam insumos farmacêuticos ativos, terapias avançadas e equipamentos médicos, o que fomenta a emergência de novas empresas de base tecnológica — um motor de mudança no setor.

Em termos de implantação, o prazo para o envio de propostas termina em 26 de agosto de 2025. Após seleção, estima-se que o desenvolvimento do Centro leve de 12 a 18 meses até alcançar produção preclínica e validação técnica, seguidos por uma fase de escalonamento industrial. O investimento em P&D, infraestrutura e capacitação técnica, unido ao incentivo à pesquisa clínica e formação de mestres e doutores, aponta para um Brasil estruturado para produzir mRNA localmente em poucos anos.

Atualmente, o país já ocupa posição destacada no ranking das Américas como um dos principais produtores de vacinas, capaz de suprir cerca de 54% das suas necessidades internas. Com essa expansão para a tecnologia mRNA, o Brasil se aproxima dos centros mundiais de produção de biotecnologia. Embora ainda distante dos líderes globais — os Estados Unidos e países europeus com grandes players como Moderna, BioNTech, Pfizer — essa iniciativa permite subir posições no ranking global ao demonstrar capacidade de inovar e produzir localmente a tecnologia de ponta.

A perspectiva de exportação passa a ser plausível. A atuação em rede com organizações internacionais como a OPAS/OMS e parcerias estratégicas com entidades como Gavi reforçam essa possibilidade. Ao fortalecer a produção nacional de biológicos e mRNA, o Brasil poderá atender não só ao mercado interno, mas também suprir necessidades de países da América Latina, utilizando fundos regionais de medicamentos e vacinas.

O futuro imediato aponta para um Brasil no limiar de uma transição conceitual: de consumidor-importador de tecnologias a produtor-exportador de vacinas inovadoras. A consolidação do Centro de Competência em RNA, com base nas startups como pólos de inovação, permitirá que o país participe mais ativamente do mercado global de vacinas. Com o crescimento estimado do mercado global de vacinas mRNA, avaliado em cerca de US$ 10,6 bilhões em 2024 e projetado para atingir US$ 48,6 bilhões até 2032, o Brasil poderá inserir-se nesse crescimento, beneficiando-se de sua capacidade instalada em institutos de ponta e da sua rede científica.

Em síntese, o investimento cria uma base para que o Brasil transforme sua posição mundial no setor de vacinas. Ao investir nas startups como agentes de inovação e formar um ecossistema robusto de pesquisa, produção e regulação, o país finca o pé no caminho da soberania tecnológica. A médio prazo, fica credenciado para exportar tecnologias próprias, participar de redes internacionais e competir no mercado global de vacinas modernas, com impacto positivo tanto na segurança sanitária quanto no desenvolvimento científico e econômico.