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Gestão de risco em projetos de PDI

Mitigação precoce como diferencial estratégico

A gestão de projetos de tecnologia, tradicionalmente, busca caminhos de redução de riscos tecnológicos, aumentando o controle sobre as escolhas e reduzindo ao máximo o potencial de inviabilidade técnica. A certeza de que, tecnicamente, o projeto é viável desde o seu início, viabiliza uma análise mais conhecida de valor agregado (escopo, tempo, custo e recursos), com alta previsibilidade, dependendo do nicho e experiência da equipe.

Por outro lado, projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PDI) operam em um terreno de incertezas. Eles desafiam o status quo, testam fronteiras tecnológicas e apostam em hipóteses ainda não validadas. Nesse cenário, o risco tecnológico não é um efeito colateral: ele é parte da essência do projeto de PDI.

Ao analisar programas de incentivo à PDI no Brasil e no exterior, um dos critérios mais importantes para se aprovar um projeto a receber investimentos é o risco tecnológico. Ou seja, a imprevisibilidade é bem-vinda, pois é nesse potencial de dar errado que mora a eventual tecnologia disruptiva, que pode gerar negócios de alto retorno financeiro, mercadológico ou social.

Como consequência, a gestão de riscos em projetos de PDI se torna mais complexa, exigindo uma abordagem que vai além dos checklists convencionais. Como o escopo tende a ser menos específico, às vezes, com itens investigativos, o plano de cronograma e recursos humanos inicialmente previsto pode ser impactado constantemente. Contudo, como tais projetos são estabelecidos em contratos que, normalmente, possuem tempo e custo pré-definidos, tem-se aí um desafio de gestão: como, andando por um caminho desconhecido e imprevisível, garantir a chegada ao destino em um horário pré-determinado?

A construção de uma matriz de risco eficiente precisa ser precedida por um mapeamento multidimensional: desde a percepção do cliente de que aquele projeto tem risco tecnológico, passando por uma execução orientada aos riscos, até estratégias de apresentação de resultados divergentes do sonhado, mas dentro de esperado para o mundo de PDI. A governança deve ser construída com base na transparência do risco, e não na sua negação.

Neste cenário caótico para o gestor de projetos, a mitigação precoce se apresenta como ferramenta estratégica indispensável, permitindo agir sobre os maiores riscos antes mesmo da fase de estabelecimento do plano de projeto. Entregas de valor para o cliente do projeto, por exemplo, que são prioridade no mundo ágil (early and often), devem ser balanceadas com entregas de redução de risco, ainda que não brilhem os olhos das principais partes interessadas.

A mitigação precoce, portanto, pode propor uma mudança de ordem em projetos de PDI, estabelecendo diretrizes sobre itens de escopo prioritário por previsibilidade (“abordar primeiro o que menos tenho certeza”) e não apenas por valor (“abordar primeiro o que meu cliente quer ver primeiro”). A tradução desse processo para um cliente que não esteja acostumado a comprar projetos de PDI também faz parte do processo de mitigação precoce, buscando garantir que, o quanto antes, o cliente entenda as bifurcações, obstáculos e atalhos do caminho do projeto.

Em ambientes onde a incerteza é desejável e, seu algoz, o cronograma, também, a mitigação precoce é mais que uma boa prática: é um diferencial estratégico. Projetos de PDI bem-sucedidos são aqueles que descobrem rapidamente onde falham no caminho, corrigem rotas e realinham destinos. E, o mais importante: convencem o cliente a aproveitar a viagem.